Sexta-feira, 24 de Fevereiro de 2012
Para ti

Há momentos que são maiores que nós mesmos. As despedidas são assim. Só nos apetece parar o tempo, mesmo sabendo que o futuro será melhor. A despedida é o fim de algo. Odeio aeroportos por causa disso. Já lá sofri muito. Deixei muita gente para trás. Tenho saudades dos que vão, e dos que deixo.

 

Nesses momentos, nem sabemos o que dizer. Sabe-se lá quando voltaremos a ver essa pessoa. Ela vai amar, ser feliz, rir e chorar, e nós não estaremos lá. Estivemos durante alguns meses, alguns anos. Estivemos lá todos os dias, até ao dia em que não estamos. E ela vai continuar a sua vida, e eu vou continuar a minha vida. Como se nada fosse. Como se sim, a amizade e o amor pudessem ser mais fortes do que a distância, que a preguiça do telefonema e do email. E não é. O amor fica. Mas perdemos tudo. Perdemos o nascimento do filho, a nova casa, a viagem, o bolo de anos, perdemos as derrotas, as conquistas, as noitadas, o novo verniz, a nova roupa, o novo amor. Só ouvimos falar, como se de um filme, de um sonho se tratasse. Perdemos o dia a dia. Moçambique é um país de passagem. Quem cá está para ficar sabe que terá de dizer olá e adeus consecutivamente. Mas custa. Não são saudades. É falta. É um buraco. A pessoa simplesmente deixa um buraco, que ainda fica aberto durante algum tempo, ali, à espera de ser preenchido, e depois vai fechando, devagarinho, até que um dia fechou. E já não faz falta. Só ficam saudades mesmo.

 

 

 

À minha amiga, que sabe quem é, vais deixar um buraco minha querida.



publicado por batomvermelho às 18:14
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Sexta-feira, 17 de Fevereiro de 2012
És linda

 

 

Tenho, sim. Tenho estrias. Passei a minha vida inteira a
emagrecer e a engordar. E tenho celulite. Faço massagens, mas ela volta sempre.
Tenho gordura a mais em certos sítios, e a menos noutros. Sou baixa. Tenho
defeitos. E serão defeitos? Não. Não são. Sou eu. Eu sou assim. Tenho estrias,
sou baixa e tenho celulite. E sou assim. E tenho orgulho em mim. Em quem sou.
Depois de tudo. Não tenho vergonha de mim. Nem das minhas estrias, nem dos
defeitos, nem do que não devia ter, nem do que tenho. Eu sou assim. E sou
linda. E, quem diz o contrário, não me conhece.

 

 Anda de cabeça erguida, mulher. Porque tu sofres com falta de amor, com o peso de ser mãe, mãe
dos teus pais que não sabem ser pais, mãe do teu marido que ainda precisa de
colo, mãe dos filhos que terás. Mãe de ti mesma, que tens de te levantar
sozinha, pensando na vida, pensando que os males da vida não são assim tão
maus, que o futuro será melhor. Levantas-te sozinha, sem mãe. Mãe de ti, mãe de
todos. És linda, anda de cabeça erguida porque mereces um tapete vermelho. E
quem não vê isso, tem um véu à frente dos olhos. Não te compares aos outros,
não olhes para as fotos das revistas e penses que gostavas de ser assim. És
linda. Não queiras ser outra. És linda. Anda de cabeça erguida, mulher. Porque
ninguém é mais forte do que tu, ninguém tem de aguentar tantos embates da vida,
tantos estalos, tantas acusações. És linda e nunca, nunca deixes que ninguém te
diga o contrário. És linda.



publicado por batomvermelho às 13:44
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Verão maior que a vida
 

Foi um verão. Em que dormiste ao meu lado. Todos os dias,
todas as noites. Os dias eram só um prolongamento da noite, enrolados nos
lençóis, enrolados na banheira, comendo chocolate derretido, sentados na
bancada da cozinha. Achei que fosses ficar uma vida inteira. Mas foste como
vieste. No Outono, já aqui não estavas.

 

Deixaste-me lembranças, como fotografias antigas, a preto e
branco, que não imaginamos que já foram animadas, que já tiveram vida. Às vezes
nem sei se realmente exististe ou se foi tudo imaginação minha, se te criei à
imagem do meu sonho. Devias ter-me deixado um filho para eu ter a certeza, para
eu ver os teus olhos nele, o teu sorriso. Mas só me deixaste um sabor amargo na
boca, sabor a morte. Morte do sonho.

 

Gostava que o tempo voltasse atrás, gostava de voltar a ter
sonhos, a pensar, a querer o futuro. Deixaste-me sabor a morte na boca. A morte
da esperança, do sonho. Já não sou aquela menina que acreditava no destino, que
acreditava que a vida lhe traria só coisas boas, que a vida seria boa, e que eu
seria tudo o que desejasse ser. Eu fui tudo, durante meses. E depois
devolveste-me, quebrada, já saciada e com pouca esperança no futuro. O que
esperar se já vivi o que queria viver?

 

Momentos que nunca esquecerei:

- Na primeira noite do primeiro beijo, quando uma clareira
se abriu, e eu te vi, a sorrir para mim. Grande, feliz, um mundo inteiro dentro
de ti

- Nas montanhas, com o mar à porta, quando aquela música
começou. Calámo-nos os dois e só olhámos um para o outro

- Os bilhetes que me deixavas, todos eles. Todos eles.

- Eu a andar a pé pela rua, rápido, rápido, o vento na minha
cara, o frio nos ossos. A sorrir sozinha, a pensar em ti

- Todas as paragens que eu fazia a caminho de casa, para me
pintar, para ti

- O primeiro abraço da semana, quando um enorme peso saía do
meu corpo e eu me sentia completa de novo

- Na cidade em manifestação, quando me abraçaste e eu me
senti segura, como se nada nem ninguém me pudesse tocar, como se fosses uma
muralha

- As casas todas que fizemos, que montámos, que sonhámos.

- Os filhos que quis ter contigo

- O teu olhar quando me viste a chegar naquele monte, só de
camisa branca, esvoaçante, transparente. Olhar de quem ainda se surpreende com
a beleza da pessoa com quem dorme todos os dias.


- Quando me pediste em casamento. O meu coração parou quando
me disseste “quero fazer-te uma pergunta”

- A tua cara no altar daquela igreja abandonada, feliz,
sorridente, certo da tua decisão



publicado por batomvermelho às 13:11
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Terça-feira, 14 de Fevereiro de 2012
Na parede...

Espero-te na bomba de gasolina. Tu chegas
dez minutos depois, nem me dizes olá, só me abraças. As tuas mãos entram no meu
cabelo. Não puxam, só entram. Chegamos a casa a rir, por nadas, já nem sei.
Encostas-me à parede, ainda rindo de nadas, a tua boca colada à minha, sinto o
teu ar, ofegante das escadas. Beijas-me, sem língua, só lábios a sugar os meus.
Paramos de rir. Viras-me de costas para ti. Encostas-te. Sinto-te. Sorrio, de
olhos já fechados. Sinto-me a mulher mais especial do mundo, como se nada mais
existisse, como se o mundo ficasse lá fora, parado no tempo. Como se eu fosse a
rainha naquele apartamento, e tu o meu rei. Os dois lado a lado, não um em
baixo e outro em cima. Lado a lado. Como uma equipa. Sensação de paz. Enfim,
estou completa.

Beijas-me o pescoço, devagar, desta vez com língua. O meu rosto está colado à
parede, os meus dedos vão acariciando o estuque. Está frio. É bom. Estás
quente. Não me tomas, só voltas a rir, de nadas. Fazes-me rir. O cabelo tapa-me
metade dos olhos. Sinto-me sexy, roída de sensualidade. Quais traumas? Quais
medos? Tens o poder de fazer de mim rainha ou a boba da corte. Alta, magra e
linda. Ou gorda, baixa e feia. Ando em biquinhos de pés pela casa, ou quase me
afundo nas ripas de madeira. Não devia deixar-te ter esse poder sobre mim, mas
não posso nada, és mais forte do que eu. Não sei se são esses olhos rasgados
que me assustam, entram em mim, olham-me fixamente como se me sugassem a alma.
Ou o teu corpo grande onde me afundo despedindo-me da luz do dia. As tuas mãos
que escondem a minha cara. O teu cabelo, sempre desgrenhado, à menino popular
da escola, meio rebelde, mas terrivelmente sexy. Por que será que gostamos
sempre dos que nos fazem pior. Vais me fazer mal? Ou vais me fazer bem?

 



publicado por batomvermelho às 20:50
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Esperei por ti a vida inteira
 
 
 

- Porque é que me olhaste assim quando me conheceste?

- Porque não sabia olhar de outra maneira

- Parecia que me conhecias

- E conhecia

- De onde?

- De sempre. Acho que me lembro de ti desde que me lembro de mim. Brincavas
comigo, na minha rua, quando era pequeno. Saltávamos ao elástico juntos.

- Nunca estive na tua rua

- Estiveste, sim. Não te lembras, mas estavas lá. Tal como estavas lá quando eu
caí a primeira vez, o coração partiu-se, a miúda não gostava de mim, chorei a
pensar que ela era a única no mundo. Enxugaste-me as lágrimas, e disseste-me
para esperar

- Nunca te vi

- Viste-me sim. Viste-me mais tarde, quando me casei. Foste a madrinha do meu casamento,
minha melhor amiga. Olhei para ti antes de dizer o sim. Assentiste com a
cabeça, como que a aprovar a minha decisão. Mais tarde, quando me divorciei, enxugaste-me
as lágrimas, e disseste-me para esperar

- Esperar o quê?

- Esperar por hoje

- E o que acontece hoje?

- Hoje vês-me. Mas sempre aqui estiveste.

- Eu não te via então?

- Não com esses olhos

- Com outros olhos?

- Com os olhos do sonho. Conhecemo-nos desde pequeninos. Amei-te desde que eras
pequenina. Amaste-me e foste a minha melhor amiga. Esperas-te por mim, mandaste-me
esperar porque ainda não estava na hora

- Na hora de te conhecer? E hoje é hora de te conhecer?

- Hoje estás sozinha, eu estou sozinho. Pela primeira vez na nossa vida,
estamos sozinhos, os dois juntos.

- Estás louco! Não te conheço de lado nenhum

- Não?

- Não…

- Ok. A tua cor preferida é o vermelho porque, embora temas a cor por ser tão
forte, ela transmite o fogo do teu interior. Quando estás stressada andas na
rua, apressada, a ouvir música aos gritos. Só acalmas quando sentes o vento a
bater-te na cara. Gostas de te embalar quando estás insegura. Adoravas ter
plantas, mas elas acabam por morrer todas. Tens muito medo que não gostem de
ti. A tua comida preferida é massa com seja o que for, mas preferivelmente com
pesto. O teu animal preferido é o cavalo porque adoras a força e ao mesmo tempo
a fragilidade deles. Lembram-te a ti própria. Adoras clássicos, filmes,
músicas. És uma romântica e nunca encontraste um homem que acalmasse o calor
que simplesmente não consegues apagar. Adoras estar sozinha e, quando estás
muito tempo com alguém, acabas por te cansar. A altura em que te sentes mais
bonita é a ouvir música, sozinha. A tua auto-estima está assente em duas
coisas: o teu lado profissional e a tua beleza. Tens medo de envelhecer.

- Pára. O que é isso?

- És tu

- Tu não me conheces

- Conheço, sim. Esperei por ti a vida inteira

 

 

 

 

 



publicado por batomvermelho às 20:32
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Hoje sinto-me assim

Hoje devia falar do dia dos namorados. Mas não me apetece.
Estou a ouvir uma música linda e apetece-me escrever sobre o que me apetece.


Só duas linhas para o dia dos namorados, que toda a gente
adora e gasta imenso dinheiro neste dia: o dia dos namorados é todos os dias.
Se o seu companheiro ou você só faz surpresas ou é querido e carinhoso no dia
14 de Fevereiro, então mais vale deitar a relação pela janela. Usar uma
lingerie preta de renda e seda, oferecer flores, ou jantar à luz das velas não
deve ser uma excepção à regra do dia a dia. Faça surpresas quando quiser e lhe
apetecer. Faça mesmo quando não lhe apetecer, que o agradecimento dele vai logo
animá-la J

Por fim, se alguém quiser ter uma noite romântica hoje, mais
vale ficar em casa. Os restaurantes estão cheios de casais à procura de
privacidade.

Pronto, está dito.

 

Próximo assunto. Hoje, sinto-me sexy. Sinto-me bonita e nem
estou. Hoje é um dia dos infernos no trabalho e estou de calças de ganga, um
top preto velho e o cabelo apanhado. Mas hoje sinto-me invencível. Apetece-me
dançar na rua, à chuva, beber margaritas de morango e usar saltos altos.
Apetece-me parar o trânsito e sentir-me uma rainha, linda e maravilhosa. Deve
ser da música que estou a ouvir. A música tem este efeito em mim. Consegue
levantar-me aos céus, ou deitar-me abaixo como uma flor murcha. Não posso ouvir
a Adele senão começo a chorar. Mas o Matias Damásio mete-me nas nuvens. Hoje é
Glee. Estou a ouvir Teenage Dream, Glee.



publicado por batomvermelho às 20:30
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