Há momentos que são maiores que nós mesmos. As despedidas são assim. Só nos apetece parar o tempo, mesmo sabendo que o futuro será melhor. A despedida é o fim de algo. Odeio aeroportos por causa disso. Já lá sofri muito. Deixei muita gente para trás. Tenho saudades dos que vão, e dos que deixo.
Nesses momentos, nem sabemos o que dizer. Sabe-se lá quando voltaremos a ver essa pessoa. Ela vai amar, ser feliz, rir e chorar, e nós não estaremos lá. Estivemos durante alguns meses, alguns anos. Estivemos lá todos os dias, até ao dia em que não estamos. E ela vai continuar a sua vida, e eu vou continuar a minha vida. Como se nada fosse. Como se sim, a amizade e o amor pudessem ser mais fortes do que a distância, que a preguiça do telefonema e do email. E não é. O amor fica. Mas perdemos tudo. Perdemos o nascimento do filho, a nova casa, a viagem, o bolo de anos, perdemos as derrotas, as conquistas, as noitadas, o novo verniz, a nova roupa, o novo amor. Só ouvimos falar, como se de um filme, de um sonho se tratasse. Perdemos o dia a dia. Moçambique é um país de passagem. Quem cá está para ficar sabe que terá de dizer olá e adeus consecutivamente. Mas custa. Não são saudades. É falta. É um buraco. A pessoa simplesmente deixa um buraco, que ainda fica aberto durante algum tempo, ali, à espera de ser preenchido, e depois vai fechando, devagarinho, até que um dia fechou. E já não faz falta. Só ficam saudades mesmo.
À minha amiga, que sabe quem é, vais deixar um buraco minha querida.
Tenho, sim. Tenho estrias. Passei a minha vida inteira a
emagrecer e a engordar. E tenho celulite. Faço massagens, mas ela volta sempre.
Tenho gordura a mais em certos sítios, e a menos noutros. Sou baixa. Tenho
defeitos. E serão defeitos? Não. Não são. Sou eu. Eu sou assim. Tenho estrias,
sou baixa e tenho celulite. E sou assim. E tenho orgulho em mim. Em quem sou.
Depois de tudo. Não tenho vergonha de mim. Nem das minhas estrias, nem dos
defeitos, nem do que não devia ter, nem do que tenho. Eu sou assim. E sou
linda. E, quem diz o contrário, não me conhece.
Anda de cabeça erguida, mulher. Porque tu sofres com falta de amor, com o peso de ser mãe, mãe
dos teus pais que não sabem ser pais, mãe do teu marido que ainda precisa de
colo, mãe dos filhos que terás. Mãe de ti mesma, que tens de te levantar
sozinha, pensando na vida, pensando que os males da vida não são assim tão
maus, que o futuro será melhor. Levantas-te sozinha, sem mãe. Mãe de ti, mãe de
todos. És linda, anda de cabeça erguida porque mereces um tapete vermelho. E
quem não vê isso, tem um véu à frente dos olhos. Não te compares aos outros,
não olhes para as fotos das revistas e penses que gostavas de ser assim. És
linda. Não queiras ser outra. És linda. Anda de cabeça erguida, mulher. Porque
ninguém é mais forte do que tu, ninguém tem de aguentar tantos embates da vida,
tantos estalos, tantas acusações. És linda e nunca, nunca deixes que ninguém te
diga o contrário. És linda.
Foi um verão. Em que dormiste ao meu lado. Todos os dias,
todas as noites. Os dias eram só um prolongamento da noite, enrolados nos
lençóis, enrolados na banheira, comendo chocolate derretido, sentados na
bancada da cozinha. Achei que fosses ficar uma vida inteira. Mas foste como
vieste. No Outono, já aqui não estavas.
Deixaste-me lembranças, como fotografias antigas, a preto e
branco, que não imaginamos que já foram animadas, que já tiveram vida. Às vezes
nem sei se realmente exististe ou se foi tudo imaginação minha, se te criei à
imagem do meu sonho. Devias ter-me deixado um filho para eu ter a certeza, para
eu ver os teus olhos nele, o teu sorriso. Mas só me deixaste um sabor amargo na
boca, sabor a morte. Morte do sonho.
Gostava que o tempo voltasse atrás, gostava de voltar a ter
sonhos, a pensar, a querer o futuro. Deixaste-me sabor a morte na boca. A morte
da esperança, do sonho. Já não sou aquela menina que acreditava no destino, que
acreditava que a vida lhe traria só coisas boas, que a vida seria boa, e que eu
seria tudo o que desejasse ser. Eu fui tudo, durante meses. E depois
devolveste-me, quebrada, já saciada e com pouca esperança no futuro. O que
esperar se já vivi o que queria viver?
Momentos que nunca esquecerei:
- Na primeira noite do primeiro beijo, quando uma clareira
se abriu, e eu te vi, a sorrir para mim. Grande, feliz, um mundo inteiro dentro
de ti
- Nas montanhas, com o mar à porta, quando aquela música
começou. Calámo-nos os dois e só olhámos um para o outro
- Os bilhetes que me deixavas, todos eles. Todos eles.
- Eu a andar a pé pela rua, rápido, rápido, o vento na minha
cara, o frio nos ossos. A sorrir sozinha, a pensar em ti
- Todas as paragens que eu fazia a caminho de casa, para me
pintar, para ti
- O primeiro abraço da semana, quando um enorme peso saía do
meu corpo e eu me sentia completa de novo
- Na cidade em manifestação, quando me abraçaste e eu me
senti segura, como se nada nem ninguém me pudesse tocar, como se fosses uma
muralha
- As casas todas que fizemos, que montámos, que sonhámos.
- Os filhos que quis ter contigo
- O teu olhar quando me viste a chegar naquele monte, só de
camisa branca, esvoaçante, transparente. Olhar de quem ainda se surpreende com
a beleza da pessoa com quem dorme todos os dias.
- Quando me pediste em casamento. O meu coração parou quando
me disseste “quero fazer-te uma pergunta”
- A tua cara no altar daquela igreja abandonada, feliz,
sorridente, certo da tua decisão
Espero-te na bomba de gasolina. Tu chegas
dez minutos depois, nem me dizes olá, só me abraças. As tuas mãos entram no meu
cabelo. Não puxam, só entram. Chegamos a casa a rir, por nadas, já nem sei.
Encostas-me à parede, ainda rindo de nadas, a tua boca colada à minha, sinto o
teu ar, ofegante das escadas. Beijas-me, sem língua, só lábios a sugar os meus.
Paramos de rir. Viras-me de costas para ti. Encostas-te. Sinto-te. Sorrio, de
olhos já fechados. Sinto-me a mulher mais especial do mundo, como se nada mais
existisse, como se o mundo ficasse lá fora, parado no tempo. Como se eu fosse a
rainha naquele apartamento, e tu o meu rei. Os dois lado a lado, não um em
baixo e outro em cima. Lado a lado. Como uma equipa. Sensação de paz. Enfim,
estou completa.
Beijas-me o pescoço, devagar, desta vez com língua. O meu rosto está colado à
parede, os meus dedos vão acariciando o estuque. Está frio. É bom. Estás
quente. Não me tomas, só voltas a rir, de nadas. Fazes-me rir. O cabelo tapa-me
metade dos olhos. Sinto-me sexy, roída de sensualidade. Quais traumas? Quais
medos? Tens o poder de fazer de mim rainha ou a boba da corte. Alta, magra e
linda. Ou gorda, baixa e feia. Ando em biquinhos de pés pela casa, ou quase me
afundo nas ripas de madeira. Não devia deixar-te ter esse poder sobre mim, mas
não posso nada, és mais forte do que eu. Não sei se são esses olhos rasgados
que me assustam, entram em mim, olham-me fixamente como se me sugassem a alma.
Ou o teu corpo grande onde me afundo despedindo-me da luz do dia. As tuas mãos
que escondem a minha cara. O teu cabelo, sempre desgrenhado, à menino popular
da escola, meio rebelde, mas terrivelmente sexy. Por que será que gostamos
sempre dos que nos fazem pior. Vais me fazer mal? Ou vais me fazer bem?
- Porque é que me olhaste assim quando me conheceste?
- Porque não sabia olhar de outra maneira
- Parecia que me conhecias
- E conhecia
- De onde?
- De sempre. Acho que me lembro de ti desde que me lembro de mim. Brincavas
comigo, na minha rua, quando era pequeno. Saltávamos ao elástico juntos.
- Nunca estive na tua rua
- Estiveste, sim. Não te lembras, mas estavas lá. Tal como estavas lá quando eu
caí a primeira vez, o coração partiu-se, a miúda não gostava de mim, chorei a
pensar que ela era a única no mundo. Enxugaste-me as lágrimas, e disseste-me
para esperar
- Nunca te vi
- Viste-me sim. Viste-me mais tarde, quando me casei. Foste a madrinha do meu casamento,
minha melhor amiga. Olhei para ti antes de dizer o sim. Assentiste com a
cabeça, como que a aprovar a minha decisão. Mais tarde, quando me divorciei, enxugaste-me
as lágrimas, e disseste-me para esperar
- Esperar o quê?
- Esperar por hoje
- E o que acontece hoje?
- Hoje vês-me. Mas sempre aqui estiveste.
- Eu não te via então?
- Não com esses olhos
- Com outros olhos?
- Com os olhos do sonho. Conhecemo-nos desde pequeninos. Amei-te desde que eras
pequenina. Amaste-me e foste a minha melhor amiga. Esperas-te por mim, mandaste-me
esperar porque ainda não estava na hora
- Na hora de te conhecer? E hoje é hora de te conhecer?
- Hoje estás sozinha, eu estou sozinho. Pela primeira vez na nossa vida,
estamos sozinhos, os dois juntos.
- Estás louco! Não te conheço de lado nenhum
- Não?
- Não…
- Ok. A tua cor preferida é o vermelho porque, embora temas a cor por ser tão
forte, ela transmite o fogo do teu interior. Quando estás stressada andas na
rua, apressada, a ouvir música aos gritos. Só acalmas quando sentes o vento a
bater-te na cara. Gostas de te embalar quando estás insegura. Adoravas ter
plantas, mas elas acabam por morrer todas. Tens muito medo que não gostem de
ti. A tua comida preferida é massa com seja o que for, mas preferivelmente com
pesto. O teu animal preferido é o cavalo porque adoras a força e ao mesmo tempo
a fragilidade deles. Lembram-te a ti própria. Adoras clássicos, filmes,
músicas. És uma romântica e nunca encontraste um homem que acalmasse o calor
que simplesmente não consegues apagar. Adoras estar sozinha e, quando estás
muito tempo com alguém, acabas por te cansar. A altura em que te sentes mais
bonita é a ouvir música, sozinha. A tua auto-estima está assente em duas
coisas: o teu lado profissional e a tua beleza. Tens medo de envelhecer.
- Pára. O que é isso?
- És tu
- Tu não me conheces
- Conheço, sim. Esperei por ti a vida inteira
Hoje devia falar do dia dos namorados. Mas não me apetece.
Estou a ouvir uma música linda e apetece-me escrever sobre o que me apetece.
Só duas linhas para o dia dos namorados, que toda a gente
adora e gasta imenso dinheiro neste dia: o dia dos namorados é todos os dias.
Se o seu companheiro ou você só faz surpresas ou é querido e carinhoso no dia
14 de Fevereiro, então mais vale deitar a relação pela janela. Usar uma
lingerie preta de renda e seda, oferecer flores, ou jantar à luz das velas não
deve ser uma excepção à regra do dia a dia. Faça surpresas quando quiser e lhe
apetecer. Faça mesmo quando não lhe apetecer, que o agradecimento dele vai logo
animá-la J
Por fim, se alguém quiser ter uma noite romântica hoje, mais
vale ficar em casa. Os restaurantes estão cheios de casais à procura de
privacidade.
Pronto, está dito.
Próximo assunto. Hoje, sinto-me sexy. Sinto-me bonita e nem
estou. Hoje é um dia dos infernos no trabalho e estou de calças de ganga, um
top preto velho e o cabelo apanhado. Mas hoje sinto-me invencível. Apetece-me
dançar na rua, à chuva, beber margaritas de morango e usar saltos altos.
Apetece-me parar o trânsito e sentir-me uma rainha, linda e maravilhosa. Deve
ser da música que estou a ouvir. A música tem este efeito em mim. Consegue
levantar-me aos céus, ou deitar-me abaixo como uma flor murcha. Não posso ouvir
a Adele senão começo a chorar. Mas o Matias Damásio mete-me nas nuvens. Hoje é
Glee. Estou a ouvir Teenage Dream, Glee.
No outro dia fui – enfim – fazer a massagem que a Sapo me
ofereceu – Obrigada Sapo! – ao Chakras – maravilhoso Chakras!
Para quem nunca lá foi, vá! É exótico, bonito, charmoso,
tratam-nos como rainhas, e sentimo-nos rainhas!
Voltando à minha massagem: descobri que não sei “não pensar”.
Vou explicar. Quando estamos a fazer uma massagem é suposto relaxarmos, não
pensarmos em nada, deixarmos os problemas lá fora. Impossível. A minha cabeça
pensava na lista de compras que tinha mesmo de fazer no final de semana, depois
parava e ordenava-me a parar com aquilo. Dois segundos com a cabeça vazia. E lá
vamos nós de novo.
Pensei na decoração da casa, que gostava de remodelar tudo
mas que não tinha dinheiro para isso, e, por isso, ia só mudar as coisas de
sítio. Depois no que me tinha esquecido de fazer no trabalho. Depois na minhas
resoluções de ano novo, que já tinha passado quase um mês e que, até agora, nem
um esforço tinha feito para as realizar. Depois nas mãos e nos pés que tinha
mesmo de fazer porque já era uma vergonha. Tinha uma unha partida e outra com
verniz a metade.
Só parei de pensar quando adormeci. Acordei com a massagista
a levantar-me as pernas. E, em vez de estar feliz por ter relaxado, senti-me
angustiada a pensar se teria ressonado. Concluindo, não sei até que ponto as
massagens funcionam em mim…
Ainda por cima saí de lá às 19 horas, fui a correr para
casa, e, quando enfim me enfiei na casa de banho, percebi que os óleos de
relaxamento tinham chegado ao meu cabelo. Parecia um pinto lambido, cabelo todo
escorrido e oleoso… Fui para a banheira e todos os óleos e cremes maravilhosos,
que serviam para hidratar a minha pele, foram-se pelo ralo.
Às 20 horas estava num jantar a pensar que andava muito
stressada e a precisar de relaxar… a vida é muito irónica mesmo…
Será que há relações que duram para sempre? Como é que
engolimos a raiva quando essa pessoa faz uma coisa dezenas, centenas, milhares
de vezes, apesar de lhe termos pedido que não a faça? Como é que se ultrapassam
os pequenos defeitos que nos irritam? Como é que se aguentam os dias em que nos
apetece estar sozinhas e mandar no comando da televisão? Como é que expulsamos
um homem da cama quando tudo o que queremos é fugir do calor, esticando-nos
todas no colchão? Como é que temos imaginação para tantos aniversários, natais,
dias dos namorados?
Hoje digo, com amor e paciência.
Se não dá para mandar no comando da televisão, o quarto e um
livro são os nossos melhores amigos, e ninguém manda no livro que lemos.
Os defeitos aguentam-se. Nem que se vá para a casa de banho
gritar sozinha, só para não gritar com ele.
A cama… a cama não há nada a fazer. Aguenta a companhia. Se
bem que tenho uma amiga que é totalmente a favor de quartos separados. Eu ainda
não sei o que penso sobre isso, já reflecti várias vezes mas não chego a
nenhuma conclusão. Por isso, se a companhia na cama dá calor, comprem um AC.
Se o sofá não chega para dois, comprem um maior.
Se vos apetece estarem sozinhas, vão fazer uma massagem, mãos,
pés, limpeza de pele. Qualquer actividade que não vos obrigue a falar. Ou limitem-se
a fecharem-se no quarto de banho, encham a banheira e metam-se lá dentro com
uma musiquinha e uma cerveja fresca na mão. Este ritual faz milagres.
As relações têm de acabar por coisas grandes. Mas a maioria
acaba por coisas pequenas, do dia-a-dia, que nem notamos. E vão nos enchendo os
nervos até sermos obrigadas a dar um pontapé e a dizer basta!
Só que há soluções antes desta. Antes do basta, há soluções.
Podem ser só pensos rápidos para um mal maior, mas resolvem muita coisa e
sobretudo, mais do que tudo, evitam muita coisa. Os chorrilhos de crueldades
que dizemos quando estamos no meio de uma discussão não desaparecem quando a
discussão acaba. Ninguém se esquece do que o outro disse, da forma como o
disse, e sobretudo do quanto doeu. E fica sempre o medo de que o diga de novo.
Uma amiga minha disse, e cito: “Acho que as relações são
feitas de barreiras "subentendidas" que sustentam o respeito e a
amizade (entre outros). E, à medida que vão sendo ignoradas, simplesmente
deixam de existir. Quando se insulta pela primeira vez, passa a ser menos
proibido. Quando chamas "inútil" pela primeira vez, passa a ser menos
proibido. Quando trais pela primeira vez, passa a ser menos proibido. etc etc
etc”.
As coisas não se esquecem, nada se esquece. E há palavras
proibidas, há gestos proibidos, há pensamentos proibidos. Por isso, quando
acharem que estão perto do ponto de ruptura por coisinhas pequenas que não têm importância
nenhuma, saiam daí. Vão acalmar-se para algum lado, vão beber um copo, ler um
livro, tomar um banho, fazer uma massagem. Porque depois não há retorno.
Estranho como uma noite, uma tarde, um momento pode mudar
tudo. Éramos quase insensíveis àquele homem, e algo acontece. Esse algo acaba
com o nosso dia seguinte, deixa-nos ansiosas, nervosas, alegres e leves. Num
momento. Num momento em que, de repente, deixámos de ser nós, e ficámos sem
medos, angústias ou inseguranças, e conseguimos despejar tudo cá para fora. O
amor, a paixão, o carinho.
É difícil, quase insuportável tomar a decisão. Nunca sabemos
se é certa ou errada. E fica o medinho, lá bem no fundo de nós próprias de ter
estragado tudo, de ter dito que não ao homem da nossa vida. Mas depois a
certeza, a liberdade, a alegria de estar com amigas diz-nos que sim, foi a decisão
certa. E estamos bem, e ouvimos música no carro, e cantamos, e sentimo-nos
poderosas e fortes. Até aquele momento. Em que tudo muda. Em que a leveza da
liberdade é trazida para aquele espaço e, entre quatro paredes, já não somos a
mulher que éramos com ele. Somos só outra pessoa, aquela que gostávamos realmente
de ser. Leve, alegre e sem medos. Aquela que resgatámos quando estávamos
sozinhas, com as amigas, leves e poderosas. E de repente, com aquele homem, com
quem tudo era feio e mau, passa a ser simples e bom. Porque nós mudámos? Porque
ele mudou?
Será que tomámos a decisão certa? O que aconteceu ao longo
da relação que estragou tanto tudo? Em que nos tornámos? E sobretudo no que nos
tornámos quando nos afastámos e voltámos, por uma tarde, uma tarde apenas, a
estar juntos? Estamos melhor sozinhas ou com ele? E, no fundo, será que
conseguimos viver sem ele?
O dia seguinte àquela tarde é intenso. Não conseguimos
trabalhar, ou pensar. Só temos um imenso, terrível, assustador medo de nunca
mais termos uma tarde daquelas. E depois o alívio. De deixar tudo nas mãos do
destino. Pensar que estamos entregues a Deus e aos Anjos e que eles hão-de
ajudar-nos a encontrar o melhor caminho. E mais uma vez o medo que o destino
nos leve para longe daquele homem, que já nos fez tanto mal, mas que nos amou
tanto. A quem nós fizemos tanto mal, mas que queremos tanto.
Literalmente à beira de um ataque de nervos e cheia de
trabalho…
Estava no outro dia a falar com uma amiga, que me contava
que a futura sogra lhe tinha pedido para matar uma galinha. E que ela devia
matá-la, se quisesse ser digna do seu filho. A minha amiga não matou galinha
nenhuma, e nem sei bem como ficou aquela história.
Mas eu faço várias perguntas. Para já, porque é que matar
seja o que for me torna digna de casar? É suposto eu matar o meu marido? Ser rápida
e eficaz?
E depois, como raio é que se mata uma galinha? É torcer o
pescoço? Eu nem barata mato, quanto mais galinha! Eu só grito e alguém há-de
matar. Se matar galinha vai garantir o meu futuro amoroso, prevejo tempos
agrestes por estes lados.
Para a sogra da minha amiga, matar galinha é sinónimo de
saber cuidar de uma casa, do marido, cozinhar, fazer carinho, fazer comida. Mais
uma vez, estou em maus lençóis. Não sei cozinhar, quem cuida da casa é a minha
empregada e, se tiver de matar seja o que for, prefiro viver sozinha para o
resto da vida.
Mas isto faz-me pensar que, realmente, a vida é muito
injusta. Nós temos o período todos os meses, mais as semanas antes e depois em
que só nos apetece espancar seja quem for que estiver ao nosso lado. Depois
para termos filhos, temos de sofrer durante horas até as nossas ancas
alargarem. E ainda temos de trabalhar (sim, porque nunca sabemos se o nosso
marido nos vai trocar quando tivermos 40 anos e não soubermos fazer
absolutamente nada), e matar galinhas. Não era mais fácil arranjarem uma
empregada que matasse as galinhas?
Acho que as sogras deviam era escolher a empregada, e não a
noiva. Também não entendo como é que as sogras se esqueceram dos tempos
passados, em que sofreram o que nós temos hoje de sofrer. Elas gostaram de
sofrer? Pois, não também não gostamos. Começo a achar que elas fazem isso por
vingança. Se eu sofri, tu também vais sofrer.
Seja como for, já disse e repito: galinha não mato.
. Para ti
. És linda
. Esperei por ti a vida int...
. Coisinhas pequenas que es...